Os ditadores
ARTHUR CHAGAS DINIZ*
A principal característica de regimes fechados é a falta de rotatividade de seus governos. Pode-se chegar à ditadura de diferentes formas, da mais à menos violenta. Em um e outro caso, a marca dos regimes fechados é exatamente a permanência da mesma pessoa e seu entourage no Poder.
Este parece ser o caso das direções de associações desportivas. No Brasil, por exemplo, o número de mandatos de presidentes da CBF, da CBV e vários outros esportes é extraordinariamente elevado. O curioso é que as confederações nada pagam a esses dirigentes.
Veja-se o caso do futebol. Havelange, eleito para vários mandatos, foi sucedido pelo seu então genro Ricardo Teixeira que, desde então, é um monarca. Isso ocorre porque seus eleitores são os dirigentes estaduais das federações cujo giro é virtualmente nulo.
Essas associações se parecem com capitanias hereditárias. De onde vem o dinheiro que mantém essa gente no Poder? Ora, vem do patrocinador, empreiteiros, fornecedores, enfim, de toda a fauna que vive em torno do Poder. Se olharmos em escala reduzida, os clubes de futebol têm uma estrutura parecida.
Agora que chegou a vez do Brasil de realizar quase sucessivamente os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo, o tamanho das carências mais evidentes** são os aeroportos, a estrutura viária e as chamadas ‘arenas’. O volume de recursos a investir é, no Brasil, pelo menos o dobro do de outros países. As estimativas de construção ou reforma de 12 arenas aumentam dia a dia. Com isto, aumenta o poder dos “ditadores” das confederações e federações. O lema parece ser “quanto mais caro, melhor”. Algumas das obras serão realizadas sem concorrência, dado que vamos discutir muito até não ser mais viável fazer licitação das obras.
Os ditadores comandam o espetáculo, de braços dados com o governo. Depois de realizado o evento – vide Jogos Pan-americanos – as arenas são largadas à sua própria sorte: o esquecimento.
*PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL
** Ref.: Valcke ironiza preparação do Brasil para 2014, Folha de S. Paulo, p.D16, 13.07.2010.
Fonte: Instituto Liberal (RJ)
Comentário Federalista
É curioso observar como a estrutura das entidades que mandam no futebol brasileiro são idênticas à estrutura do Brasil.
O espelhamento ocorre em todas formas no País, nos municípios, nos estados, nas entidades, "federações", "confederações", associações diversas, ONGs, e até em muitas empresas. É uma cultura que, com o tempo, vai cobrando seu preço.
Encontrar o ponto de mutação dessa cultura para a cultura da autonomia, da responsabilidade local e da liberdade, uma cultura geral do mérito, ainda é algo a ser conquistado, reconhecemos. Mas, a aceitação das teses federalistas propostas pelo Partido Federalista nos motivam muito, aliás, é a única razão pela qual insistimos. Existindo esse anseio, certamente existe o ponto da mutação citada.
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