quarta-feira, 26 de maio de 2010

O Brasil está sendo vendido

Existe um movimento mundial, no qual países com dinheiro e pouca terra cultivável, compram terras em outros países que possuem muita terra e pouco dinheiro. Eles as usam não só para produzir alimentos, como também para cultivar eucaliptos para produção de papel e exportar para seus países de origem.

No caso do Brasil, já passa de 5,5 milhões de hectares a área de terra em mãos de estrangeiros. Para se ter uma idéia de quanto é isto, basta lembrar que 1 hectare equivale a 10.000 m² ou seja um quarteirão de 100 metros de lado por 100 metros de fundo.

Este número pode ser muito maior pois o próprio presidente do INCRA diz que muitos proprietários não declaram a nacionalidade no registro e o controle no Brasil é falho a tal ponto que mesmo o INCRA não sabe a real extensão das vendas.

Existe um projeto que limita a venda de terras brasileiras a empresas estrangeiras aguardando um parecer da Advocacia Geral da União, sem previsão de desfecho. Enquanto isto, nosso país vai sendo vendido.

Destes 5,5 milhões registrados, a maior parte são terras da Amazônia, Mato Grosso e Bahia, mas existem propriedades ao longo de todo no país.

Existem até sites estrangeiros especializados na venda de terras no Brasil ressaltando as vantagens em termos de preços e facilidades na exploração de minérios, pecuária ou outra atividade qualquer.

O próprio presidente do INCRA, o gaúcho Rolf Hackbart alegou no ano passado que a legislação precisa ser mudada com urgência, pois a procura de terras brasileiras por grupos estrangeiros está crescendo de maneira acentuada e sem nenhum controle. Ele vai além, alegando que o Brasil está perdendo sua soberania nacional.

De imediato, a senadora Kátia Abreu, do estado do Tocantins e ligada à Confederação Nacional da Agricultura, reagiu numa audiência no Senado, dizendo que o presidente do INCRA não fala em nome do povo, diferente dos parlamentares.

Na mesma época, o senador gaúcho Sérgio Zambiasi, que apresentou uma proposta de emenda constitucional reduzindo de 150 para 50 quilômetros a chamada faixa de fronteira nacional, viu seu projeto passar sob aplausos pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, devendo sua proposta ser aprovada pelo Congresso muito em breve.

Com esta aprovação, fica aberto o caminho para a ampliação no Rio Grande do Sul de uma das fábricas da Stora Enso, uma multinacional Sueco-Finlandesa e a maior fabricante mundial de papel e celulose. A multinacional já possui plantações de eucalipto no Uruguai, na fronteira com o Brasil e tem no lado brasileiro cerca de 50 mil hectares para o plantio de eucaliptos e precisa de outros 60 mil hectares para expandir seu negócio. A única dificuldade é que esta área está dentro da região de fronteiras, considerada de segurança nacional, onde é proibida a venda de terras. Com a mudança da legislação, a Stora Enso ampliará suas terras e o Rio Grande terá mais 60 mil hectares de eucaliptos.

Vale lembrar que o cultivo de eucaliptos é bastante polêmico e tido como altamente predatório, pois ele consome altas quantidades de água, ocasiona diminuição dos riachos, afeta o lençol freático, modifica a condição do solo e reduz a biodiversidade da flora e da fauna da região onde é plantado.

A grande verdade é que o Brasil está sendo vendido descaradamente e nossas terras estão sendo estragadas por grandes empresas, as quais fazem aqui, o que muitas vezes não lhes é permitido em outras partes do mundo.

E, se a constituição não permite vender terras nas fronteiras, muda-se a lei, diminuindo as faixas de fronteiras. Pena que pouco se fale sobre estes desmandos no nosso Brasil. Como bem disse o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano: “Os bosques nativos abrem espaço para os bosques artificiais. Parecem soldados em fila os pinheiros e eucaliptos de exportação, que marcham rumo ao mercado internacional. Fontes de divisas, exemplos de desenvolvimento, símbolos de progresso, esses criadouros de madeira ressecam a terra e arruínam os solos. Neles, os pássaros não cantam. As pessoas os chamam de bosques do silêncio!”


Extraído do Blog do Escritor Célio Pezza - Autor dos livros A Nova Terra, O Conselho dos Doze, As Sete Portas, Ariane e A Palavra http://cpezza.com/wordpress/2009/11/26/cronica-14-o-brasil-esta-sendo-vendido/

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